Dicas para navegação na Lagoa Mirim

Confira alguns detalhes para planejar uma velejada neste ambiente rico em diversidade.

Após a segunda edição da Regata da Lua Cheia de 2019, o grupo de cruzeiristas do Clube dos Jangadeiros realizou um bate-papo especial com os velejadores Paulo Angonese e Cinthia Cramer, do barco Kauana, e Fábio Santarosa, do barco Escapada.

E o tema não poderia ser melhor: além de compartilhar as experiências de suas velejadas, o trio dividiu com os participantes uma série de dicas para navegar na Lagoa Mirim.

Confira agora o que você precisa saber para iniciar uma velejada à Lagoa Mirim.

  • Conhecendo a Lagoa Mirim

Com 100 milhas náuticas de comprimento e 22mn de largura, a Mirim é a segunda maior lagoa do Brasil – atrás apenas da Lagoa dos Patos – e a primeira do Uruguai, que segue após a fronteira com o país. Seus principais afluentes são os rios Jaguarão (no Brasil), Tacuari, Cebollati e San Luis (no Uruguai). O Canal de São Gonçalo é o seu efluente, que liga a Lagoa Mirim à Lagoa dos Patos.

De acordo com Paulo Angonese, que visitou a Lagoa recentemente pela oitava vez, a profundidade varia entre 1 metro e 1 metro e meio no ano. “Uma das últimas viagens que realizei foi a colheita de tudo o que aprendi para levar a Cinthia, minha esposa, junto comigo e conhecer a Mirim da maneira mais segura possível”, destacou.

Para exemplificar as diferentes regiões da Lagoa Mirim, Paulo Angonese organiza a divisão da região em partes, conforme as imagens a seguir:

  • Parte 1: São Gonçalo

A primeira parte compreende do clube Veleiros Saldanha da Gama ao Sangradouro, totalizando a distância de 33,5 milhas náuticas (mn). Tem média de 250 metros de largura e de 6 a 7 metros de profundidade e correnteza no sentido da Mirim para Lagoa dos Patos.

  • Parte 2: do Sangradouro a Ponta Alegre

A distância entre o Sangradouro e Ponta Alegre é o total de 15 milhas náuticas, sendo 10mn no canal. De acordo com Angonese, o canal possui 30 metros de largura por 2 metros de profundidade. O comandante ainda fez dois alertas sobre a segunda parte: o primeiro é o risco de ‘mangrulhos’ abaixo no início deste trajeto. Com profundidade de 6 a 7 metros, a dica é observar sempre o rumo. O segundo alerta é sobre a aproximação difícil no Farol da Ponta Alegre que, segundo Paulo, deve ser conferido antes.

  • Parte 3: Central

Esta travessia compreende aproximadamente 35 milhas náuticas até a região de Foz do Jaguarão ou Caldeirinha, com profundidade média de 4 metros.

  • Parte 4: Sul Centro e extremo sul

As últimas regiões da Lagoa Mirim são a partes sul centro que abrangem os abrigos Ponta Canoa e Afogados, a Ilha Brasileira e região, e Sarandi, Laguna Guacha, Ayala, Cebollati e La Charqueada (no Uruguai).

Já o extremo sul compreende as partes do Rio San Luis, San Miguel, Chui e Santa Vitória do Palmar, com a dica de ficar atento ao vento sul.

  • Por que velejar para a Lagoa Mirim?

Uma das principais questões abordadas no bate-papo é o porquê conhecer a Mirim e quais são as principais características que despertam a atenção para uma experiência na lagoa. A curiosidade foi um dos principais fatores que fizeram Cinthia Cramer ter a vontade de conhecer o lugar. “Decidi velejar após o Paulo sair sempre para navegar na Mirim e mandar fotos lindas do lugar. Logo, pensei que agora era a minha vez de conhecer a região. Após uma primeira experiência que contou com alguns imprevistos, fomos uma segunda vez e passamos três semanas em um lugar lindo e voltado completamente para a natureza”, relata.

Por falar em natureza, este é um dos principais pontos a se destacar para quem quer conhecer o ambiente. De acordo com os palestrantes, a riqueza em biodiversidade é um dos principais atrativos do local. “Velejar até lá é uma aventura maravilhosa, além da oportunidade de explorar um ambiente novo e uma bela natureza. É um lugar para você estar de perto da diversidade e dos animais”, destaca Angonese.

“É um lugar que me deixou apaixonado e recomendo a todo mundo. Tem uma natureza e fauna que não estamos acostumados, o que o torna lindo e diferente de tudo o que vemos. Você liga o VHF do seu barco lá e é um silêncio total. Nada por perto, somente a natureza. Não têm poluição, saco de lixo, garrafa, etc. É tudo muito limpo e preservado e, para quem tiver a oportunidade, vale muito a pena conhecer e planejar uma velejada para enriquecer cada vez mais suas experiências”, ressalta Fábio Santarosa.

  • Faça o planejamento!

Agora que você sabe o que a Mirim pode oferecer, está na hora de planejar como velejar até lá. O primeiro ponto é saber a profundidade da lagoa, o melhor momento para navegar e o calado do barco para esta aventura. Para Paulo e Cinthia, o mês de março é uma das melhores oportunidades para visitar o local, uma vez que o nível d’água é menor.

“A profundidade da lagoa varia em 1 metro e 1 metro e meio. Em setembro, outubro e novembro são as épocas em que ela está mais alta. Março é o período em que ela está mais baixa. Logo, esse é o primeiro passo das informações que você deve levar para fazer um planejamento”, explica Paulo. Logo, a lagoa permanece “seco” durante o verão e outono, e cheio entre o inverno e a primavera, tendo uma variação significativa ano a ano.

O velejador ainda ressalta que o segundo passo para o planejamento é utilizar a régua do Iate Clube Guaíba como referência para navegação, destacando que qualquer barco pode entrar desde que leve isso em consideração. Dessa forma, pode se destacar que quanto menor for a profundidade da lagoa, menor deve ser o calado do barco. Assim, barcos com grande calado podem aproveitar as épocas em que o nível de água da Mirim está maior.


Régua do Iate Clube Jaguarão

Com isso, Angonese detalha que dependendo do ambiente que você planeja velejar, o ideal é seguir a régua de profundidade do ICJ e aumentar ou diminuir os centímetros de acordo com a referência total, como mostra o gráfico abaixo:

  • Tenha alguns cuidados!

Segundo Paulo Angonese, para realizar a navegada até a Lagoa Mirim o ideal é seguir entre duas ou três embarcações, pois velejar sozinho não é uma boa ideia se você pensar nos riscos e na segurança do seu barco e da tripulação. Um exemplo disso é mencionado por Fábio Santarosa, que explicou sua velejada com o veleiro Escapada ao lado e sempre em contato com o veleiro Allu Maris, dos associados Carlos Humberto Goidanich e Karin Goidanich.

“A integração entre dois ou mais barcos é muito interessante para dividir a experiência, tirar fotos e curtir um happy hour. Cada um pode fazer o seu caminho, mas sempre mantendo contato e buscando não se afastar muito um do outro. Estava sozinho em meu barco, mas me senti bem com a presença dos amigos das outras embarcações”, diz Santarosa.

Os palestrantes ainda destacaram que a navegação na Mirim não deve se basear nas informações das cartas náuticas, pois elas encontram-se desatualizadas. O ideal é navegar utilizando os pontos de GPS, os waypoints, uma cartilha compartilhada entre os comandantes para se guiar e velejar tranquilamente.

Para finalizar, Angonese destaca alguns pontos para quem for velejar no Uruguai. “Seria bom se organizar antes de tudo. É essencial obter a autorização para navegar, o ROL, junto a Prefectura Naval de Rio Branco ou Charqueadas. Ele é válido por seis meses e bom para manter-se regularizado na hora de entrar em águas estrangeiras”, ressalta.

Alguns pontos a se verificar: é necessário realizar uma inspeção no barco que custa de 1140 pesos, em espécie. Este processo pode ser realizado de Segunda a sexta-feira, das 08h às 12h. Para isso, o comandante precisa estar com os documentos originais e as cópias dos documentos pessoais e da embarcação. Por fim, se possível, mantenha o sinal do seu celular e utilize chips da Vivo e Antel (Uruguai), além de ser importante reservar ao menos duas semanas para este procedimento.

Estas foram algumas dicas repassadas durante o bate-papo especial com os velejadores Paulo Angonese, Cinthia Cramer e Fábio Santarosa para quem quiser conhecer e se programar para conhecer a Lagoa Mirim, um dos grandes patrimônios naturais do Rio Grande do Sul. Agora, basta planejar, trocar experiências com velejadores que já navegaram no local e colocar o barco na água para esta grande aventura.