Veleiro Uruguaiana 3 conclui primeira etapa da expedição pelo Brasil rumo a Refeno 2020
Confira o diário de bordo do Comandante Henrique Freitas com os detalhes do início da velejada para a participação no grande evento da vela brasileira.
Depois de confirmar presença na Refeno 2020, o veleiro Uruguaiana 3, do Comandante Henrique Freitas, zarpou rumo à uma das mais tradicionais competições da vela brasileiro.
Em detalhes, o comandante relata a primeira etapa da velejada pela região sul neste diário de bordo especial. Confira!
U3, relato da etapa 1: CDJ, ICP, Bombinhas, Marina de Itajaí, JIC
Diário de Bordo Uruguaiana 3
Primeira etapa: Clube dos Jangadeiros – Iate Clube de Pelotas (19 e 20 de maio), Iate Clube Pelotas – Bombinhas (24 a 26 de maio), Bombinhas – Marina Itajaí (27 de maio), Marina Itajaí – Joinville Iate Clube (28 de maio)
A ideia do projeto nasce de conversas com o Eduardo Bojunga de Oliveira, com o Pena e tantos outros amigos, mas cresce vendo o Márcio Lima, o Gigante, e todo pessoal da “Farofeno” criando coragem e avançando em suas velejadas, especialmente Henrique Velloso do Gentileza, Paulo ‘vai e todos barcos’, e o casal Bruna e Jairo, do Caboges.
A preparação do barco passa por testes em janeiro e fevereiro, e aprontos para tal, antes e depois disso, com serviços especialmente pelo Renê Garrafielo e o Junior Araken, e outros, como inox pelo Sadi e capotaria pelo Marcelo. Nisso, o timing foi perfeito, graças ao bom senso da Comodoria do CDJ, sensível ao projeto em si.
Com meu mano Newtinho, preparamos diversos aspectos de segurança, definimos o “saco do Comandante” e o saco de abandono, o saco e rações, investimos na balsa e epirb, e diversos outros aspectos.
Testamos e escolhemos a tripulação com parcimônia. Tudo certo na pré-partida, rancho, etc. Era 18 maio. Suspendemos ou zarpamos no 19 maio. Vento favorável, mas fraco. Pernoite mexido na Barra Falsa, após 14h de velejada desde 08h: foi a perna Clube dos Jangadeiros-Iate Clube Pelotas, 2 dias. Como sempre, acolhida maravilhosa.
A estada em Pelotas, no ICP, durou 4 dias. Força do Oswaldo, sempre vital. Comodoro nos acolheu muito bem. Júlio indicou o Batuva para uma jantinha. Fenomenal (Rua Osório, 454, Pelotas). Indo para lá eu disse: “será que é onde já jantei com meus primos uma vez? ” Chegamos e era mesmo! Entramos e eu disse: “esta mesa não, meus primos sempre jantam nela”. Sentamos noutra mesa. Bingo: 30 min e chegaram os primos.
Os estudos da meteorologia haviam iniciado 10 dias antes. Mas o Cristian Yanzer veio para Pelotas, ali no mesmo trapiche e, por 2 dias, ajudou a gente a ler as projeções. Na mosca. Tudo certo. Ajuda carinhosa do Cristian e da “Marcela”! Susto também mandou informações preciosas.
Criamos alguns grupos “U3” de whatsapp: SOS resgate/depanagem, méteo e rotas, board, perna, serviços, e “mundo afora”. Tudo para poder, com parcimônia, difundir as informações, ou trocar ideias.
O spot ou link de monitoramento de onde estamos no mar é dado somente a indivíduos, pois não desejamos que grupos especulem se estamos ou não bem, e sim poder seriamente comunicar com quem encarregamos disso. Zero especulações nesse tema. Interessado, peça no privado. Tivemos algum problema com alguma regulagem de VHF e de AIS, ainda investigando, antenas, sinais, contatos, alcance. Fizemos alguns testes, estamos satisfatórios no quesito, podemos melhorar.
A perna Iate Clube Pelotas – Bombinhas: Zarpando 07h de Pelotas, entrando no mar na barra de Rio Grande às 12h, com ondas altas, para mim ‘volumosas’ (de fato, 2 a 2,5 m de través), mas com estratégia bem definida, foi muito bem. Bem pela costa! E com duas noites no mar, as ondas, mas de lado no primeiro dia e no segundo dia levemente favoráveis. Tripulação se comportou muito bem. Eu, Cesar Missiaggia, do veleiro Volare, Paulo Dariva, do veleiro Boré e Eduardo Bojunga de Oliveira (coach). Eu fui o único que não me senti bem à vontade, como até ali estava de 19 a 24 maio, mareei um pouco, então fui poupado nas 2 noites, os guris seguraram a onda firmes, descansei e assim pude passar melhor de dia. Bastante vento, 25-30 e rajadas de 35, mas mais favorável na segunda noite, forte sempre. Surfávamos a 12 nós com aparente de 25 a 30 nós entrando por 160 graus.
Uma certa curiosidade foi que eu decidi e firmei a decisão com o Renê e com o Bojunga, usar a vela mestra de Delta 32 para toda subida. Recebemos críticas e um pouco de bullying, mas foi fenomenal decisão: o barco andou a 7, 8, 9, média de 8 e toda 1ª etapa. Andou muito. Inclusive na 1ª noite, o time decidiu rizar a vela em certo momento! E assim iremos até Recife!
Passando de praia em praia, Tramandaí, Xangri-lá, Capão da Canoa, Torres, alguns amigos espontaneamente e outros encomendados, tiraram fotos ou nos filmaram. Muito legal! Em Morro dos Conventos, antes em Arroio do Silva, meu filho Gabi identificou o barco, pedindo para acendermos as luzes e apagarmos, teve certeza, sinalizou de terra, jogou fogos, foi genial, uma emoção! Nós colocamos na targa uma rede, grande, amarramos bem… colocamos batata, cebola, banana, etc. Ao adernar demais na madrugada, as coisas caíram pelos cantos, faltou bloquear os cantos! De barra a barra o total foi de 43h (barra de Rio Grande ao Sul da ilha de Floripa), total de 47h do ICP a Sul da ilha de Floripa; e de 55h de ICP a Bombinhas.
No través da ilha, ali pelo Campêche, vento fraco. Fomos ligar o motor e apitou forte um sensor da rabeta, tomamos um susto. Consultamos o Wolff, o Renê e o Márcio Lima, generosos, nos deram dicas, e depanamos o problema, era apenas um ‘falso alarme’, limpando o sensor, tudo normal. Chegamos a articular guincho, marina, mecânico, mas as dicas foram preciosas e nos levaram ao bom termo. Pernoite em Bombinhas, churrasco gostoso, carne Genebra. Então, isso foi de 24 a 26 maio 2020.
27 maio, cedinho. A perna Bombinhas-Itajaí foi agradável, suave. A Marina de Itajaí, maravilhosa, profissional, acolhedora. Natasha e Vitória, todo pessoal bárbaro! Jantinha no restaurante da Marina, chef de 1, frutos do mar, espetacular e saborosa! As fotos recebidas no caminho, e mesmo na chegada, em todos locais pelos quais passamos, as comidas preparadas a bordo, foi tudo maravilhoso.
Cedinho mesmo, 06h, a perna Itajaí-JIC, passando por São Francisco do Sul, muito lindo tudo, pedras, ilhas, cuidados, navios. O JIC, impressionante, a torre de controle, muito interessante, com visão 360, e onde o gestor operacional toma conta do time e aciona a equipe de apoio por radinho. Um brinco.
Na rota toda, foram 605 milhas em 9 dias, pois paramos 3 dias em Pelotas, no ICP, esperando a hora certa de entrar no mar. E usamos 40h de motor ao todo, 16h na Lagoa e 24h no mar. De barra a barra, 43h, de Rio Grande ao Sul de Floripa, 2h de motor, total 10 dias, de 19 a 28 maio.
Hora de organizar outros “sacos”: roupas para lavar, perecíveis a levar, cumbucas a levar para casa e repor comidas prontas, mochila, computador, carteira, remédios [alguns esqueci].
Em grupos indagaram sobre ‘quanto pagamos’. Esses temas mais reservados, tratamos em cada momento de forma apropriada, bem antecipadamente, vendo se há convênios, dialogando muito, vendo contatos-chave. Decidir onde ir parando por critérios como; acolhem bem, segurança, valores, amizades, etc.
Resolvemos trocar a escota da grande por uma de menos atrito, a nossa era de bitola muito larga. O cabo que escolhemos deu perfeito, e era exatamente do mesmo comprimento que o anterior. No olho.
Rimos muito com a tripula provocando o Comandante com o “calma, Henrique”, e sobretudo com um ‘quid pro cuo’ sobre um tal galão de 40 litros que deveria voltar conosco, posto que estava demais no paiol. Foi uma festa à parte! Quase deu gente se mijando a bordo de tanto rir.
Conferimos o que se tinha de rancho e o que se deveria comprar para repor. Descobrimos então que um ‘mamão’ consumiu toda cerveja que eu havia estocado nos paineiros para ir até Recife!! E tomamos muita limonada, bom demais. Decidimos que nas pernas seguintes acomodaremos antes as comidas na geladeira, e destinaremos área específica para as bebidas, e com reposição mais frequente de bebidas para gelar: é bem melhor assim. Tipo: tirou 4 latas de cerveja, põe 4 novas.
Fizemos uma lista resumida de “checkout”, em D, e em D-1? E igualmente de providências iniciais na retomada. Tudo isso constará no “Protocolo U3” e a nova versão [1.1] em 17junho.
Por fim, o registro de quão gigante, capaz, devotado, é o Eduardo Bojunga de Oliveira! Sempre atento a tudo, incansável, inatingível pelo ‘marear’, focado na sua missão, cada aspecto atacado com muita competência, uma ampliação enorme do quesito segurança do projeto e da realização nas melhores condições. Espirituoso. Iniciativa. Fenomenal parceria. Assim, como o César Missiaggia do Volare, e o Paulo Dariva do Boré. Prestativos, atentos, firmes, seguraram a onda, ‘aguentaram’ no osso as leituras de checklist em cada etapa.