Luciana Figueiredo: Do sonho náutico a uma expedição de um mês na Antártica
Na seção “Perfil Janga”, falamos com associados do Clube dos Jangadeiros que viveram experiências únicas e têm boas histórias para contar.
Um barco é muito mais do que objeto capaz de flutuar. Para quem ama estar na água, é uma ferramenta para a realização de sonhos. E assim foi a trajetória da médica Luciana Filchtiner Figueiredo, associada do Clube dos Jangadeiros. Depois do início na Escola de Vela Barra Limpa há dois anos, evoluiu rapidamente para tirar do papel o plano de visitar o extremo sul do mundo, a Antártica.
No fim de 2023, Luciana embarcou numa aventura capitaneada pela australiana Cath Hew e iniciou sua jornada de um mês, de 17 de novembro a 17 de dezembro, pelo continente gelado.
“Partimos de Ushuaia no veleiro Icebird, um Van de Stadt 61 pés com mastreação Aerorig, a mesma do Veleiro Parati II do Amyr Klink”, relembra Luciana. “O início da viagem atrasou um pouco, pois precisávamos esperar o momento certo para cruzar o temido Drake. A travessia foi tranquila e levou quatro dias. Passamos quase 20 dias na Antártica, todo tempo embarcados, ancorando a cada dois ou três dias num local diferente e depois regressando para Ushuaia. Eram nove pessoas desconhecidas num espaço restrito e, antagonicamente, grandioso”.
O início
Luciana Figueiredo iniciou sua trajetória náutica em 2022, com aulas experimentais de vela no Clube dos Jangadeiros. Logo em seguida, fez consecutivamente o curso de monotipo básico na Escola de Vela Barra Limpa, o curso de iniciação à regata e o curso básico de vela de cruzeiro. A paixão foi imediata, ela se associou ao Jangadeiros e comprou um barco snipe para competir.
“Com esse envolvimento intenso com a vela, fui estudando e conhecendo muitas pessoas da área, dentre elas o Charlie Flesch, do canal Homo Zarpiens. Nos encontramos, e ele me contou suas aventuras na Antártica e o caminho que havia trilhado para chegar lá, me fazendo acreditar que era possível ir também. Assim, aquele sonho grande e distante de menina passou a ser um objetivo”, conta.
Transformando sonho em realidade
A ideia de Luciana era viajar à Antártica num veleiro de expedições, ter a liberdade de explorar o continente por mais tempo.
“No início, achei uma loucura ficar 30 dias afastada. Médicos não ficam incomunicáveis, nem tiram 30 dias de férias. Mas como era um desejo muito forte, tomei coragem de fazer diferente e zarpei para essa aventura”, relembra.
Foram quase 20 dias na parte mais meridional do mundo, o único continente que não tem população permanente e o mais difícil para um ser humano sobreviver. Isso permitiu, segundo Luciana, “ter contato com uma natureza intocada e muito diferente de qualquer outro continente. Observar de perto a diversidade da vida animal na região. Navegar na Península Antártica e nos mares do extremo sul. Me desafiar com uma experiência de muita reflexão e crescimento pessoal, desconectada da vida cotidiana.”
Do desejo inicial, que passou pela introdução à vida náutica no Jangadeiros, até o retorno ao Brasil, Luciana Figueiredo construiu algumas das melhores memórias da sua vida.
“Foram 30 dias vivendo com mínimas necessidades pessoais, mas em paralelo de forma tão intensa, que realmente senti um pertencimento a essa natureza tão crua e pura. Isso é um privilégio. Por ser médica e ter trabalhado em muitas situações extremas, eu acredito em viver com intensidade tudo o que tem sentido para ti. Realizar um sonho como esse te impulsiona a ir adiante por mais experiências e dar valor às coisas simples”.