Depoimento Cláudio Aydos: Formação dos velejadores
“O Clube dos Jangadeiros foi fundado praticamente sem barcos. O Sr. Leopoldo Geyer financiou para o Clube cinco barcos da classe Sharpie 12m2. Pois bem, esses barcos no dia do primeiro aniversário do Jangadeiros foram devidamente batizados pelas senhoritas Eunice Bergallo, Ignez Baer, Maria da Graça Moreira, Lourdes Siegmann e Inge Albrecht. Foi uma bela festa que contou até com a presença do deus Netuno (foto), trazendo um garrafão de água do Ceará para a cerimônia, pois os barcos receberam nomes de rios e/ou cidades daquele Estado.
Estes cinco barcos constituíam a flotilha de competição do nosso clube. No princípio, entretanto, além de poucos barcos, tínhamos também poucos velejadores em nosso quadro de sócios fundadores. Então o Comodoro Leopoldo Geyer, que era um homem de visão, querendo atrair mais gente para o esporte da vela, determinou que os cinco novos barcos pudessem também ser usados por sócios, que não tendo barco, quisessem desfrutar as belezas e delícias do esporte.
Esse uso seria feito mediante o pagamento de uma módica taxa, proporcional ao tempo de utilização dos barcos. Era preciso apenas que os candidatos tivessem alguma noção básica do manejo do barco, tal como armar o barco, envergar e içar as velas, rizar e ferrar panos, navegar em asa de pombo, virar por davante e virar em roda (o temível “Halsen” dos alemães) e por fim, desarmar tudo, ajudar a subir o barco no guindaste e pendurar as velas no secador.
Além disso, os “novos” velejadores deviam comprometer-se a ficar velejando somente em nossa enseada, entre as pontas do Cachimbo e do Dionísio, ou seja, à vista do marinheiro do clube. Trabalhava no clube nessa época, o Sr. Arno Crusius, antigo velejador, que além da função de gerente, fazia as vezes de instrutor de vela. Belíssima figura, o “seu” Arno Crusius!
Era ele que “examinava” os candidatos a alugar um barco do clube, para ver se tinham as noções básicas acima mencionadas. Eu, que já velejava desde antes da fundação do Jangadeiros, também tive que submeter-me ao “exame “pois eu era considerado muito guri, para querer navegar num sharpie 12m2.
Quem passasse no exame, recebia um “diploma” de timoneiro, constituído por um medalhão de madeira com uns 20 cm de diâmetro representando um “fundo de barril de chope”, pois todo o novo diplomado devia pagar uma rodada de chope aos velejadores veteranos. Eram momentos muito divertidos.
Esses medalhões, (foto) por muito tempo ficaram ornamentando as paredes da sede do nosso clube. Infelizmente, esta tradição e este ritual foram descontinuados e mais tarde, quando o clube entrou em obras para a ampliação de sua sede, a diretoria resolveu que os medalhões fossem entregues, cada um ao seu dono. Assim, desde então, mantenho o meu “fundo de barril” enfeitando a parede da minha sala.”