O Jangadeiros é um grande Clube graças ao empenho e a dedicação de muitos de seus sócios. Um deles é o estimado sócio-benemérito Luiz Szabo, de 87 anos, que nos deixou nesta última terça-feira (10 de maio).
A comodoria do Jangadeiros e toda a família do Janga agradece a grande contribuição desse amigo e fiel escudeiro, um militante sempre atento e incansável pelas causas do Clube. Nos unimos ao sentimento da sua esposa Sônia Szabo, de seus filhos Pedro Luiz e Ladislau e de toda a sua família. Nosso grande agradecimento ao estimulante convívio, à amizade e à tantas alegrias compartilhadas!
Szabo, de família húngara, pertencia ao Grêmio Esportivo Masson, que em 1948 tornou-se o Iate Clube Guaíba. Ali, Leopoldo Geyer fomentou o esporte náutico, que atraiu Szabo. Com o aterro que mudou a paisagem da Zona Sul de Porto Alegre, o ICG ficou sem acesso ao Guaíba, portanto, sem condições para os velejadores por certo tempo.
Atento aos acontecimentos, o Jangadeiros recebeu de braços abertos os “náufragos” do antigo Clube, como Luiz se referia. Ele e seus companheiros chegaram com entusiasmo ao novo Clube, querendo vê-lo crescer. À época, o fundador Leopoldo Geyer já havia instituído os “Filhotes dos Jangadeiros”, com o qual o grupo se identificou por fazer parte da recente renovação.
Campeão Estadual na classe Sharpie, uma antiga embarcação de madeira, Szabo se tornaria capitão da Flotilha Pinguim, na qual seus filhos começaram a velejar. Foram diversas competições por boa parte do Brasil, Buenos Aires, Montevidéu e Estados Unidos. Mas, para que as competições ocorressem, era preciso que a categoria se unificasse em um padrão. Foi então que Szabo conseguiu a planta original, vinda da Alemanha, e regularizou a situação no País, feito que lhe rendeu o título de Chefe Nacional da Classe Pinguim, além de acumular o cargo de Vice-Comodoro Esportivo do Jangadeiros.
Ao longo de sua história com a vela, foi vice-presidente da Federação de Vela e Motor, presidente da Soamar (Sociedade Amigos da Marinha do Brasil) e comodoro do Jangadeiros em 1988. “Meu legado, e isso eu bato no peito para dizer, é que eu consegui unir as pessoas dos Clubes”, afirmou ele em entrevista ao Clube, defensor da ideia de que a rivalidade entre as agremiações deve ficar na água.
O ex-Comodoro lembrava com orgulho dos tempos de construção da Ilha, que veio a tomar forma graças ao esforço dos associados por puro amor ao Clube. Os finais de semana, seja auxiliando na colocação das pedras ou organizando festas para angariar fundos e dar forma a grandiosa obra, fizeram parte da memória de Luiz e sua esposa, Sônia Szabo, incansável na movimentação social e na própria concepção da Ilha.
“Minha maior satisfação é ver que a filosofia de nosso fundador está sendo levada adiante. É nos jovens que se deve pensar, pois eles são nosso futuro”, dizia Luiz Szabo. Orgulhoso da Escola de Vela Barra Limpa, sempre a considerou a “porta de entrada” do Clube, onde as crianças tem contato com os fundamentos e a filosofia do esporte náutico.
Depoimentos de amigos
Comodoro Manuel Ruttkay Pereira
“Sei que Luiz Szabo Adasz nasceu no Brasil, filho de húngaros, mas, para mim, ele tinha o jeito de quem havia vindo de Budapest, Giör ou Debrecen! Minha lembrança de pequeno era que, conduzido pelas mãos de meu avô, quando nos encontrávamos com a família Szabo, iniciava-se uma longa conversa em uma língua muito difícil e estranha, mas com a qual eu já estava acostumado e, lentamente, aprendia de forma rudimentar! Em todas as ocasiões nas quais nossos caminhos se cruzaram, sem exceção, sempre nos cumprimentamos no idioma magiar, aquele que até o diabo respeita, segundo Chico Buarque de Holanda! Ele brincava, explorando ao máximo meu limitado domínio da língua e eu esforçava-me para cumprir bem com o dever de não deixar cair a peteca dos Ruttkay! Certamente, conviver com o Szabo e beber da sua experiência e retitude ajudou-me, em muito, a entender o Jangadeiros e seus associados e também, em diversas ocasiões, a trilhar o caminho certo! Sua trajetória significativa e histórica dentro do CDJ está contada em outro texto desta News, com mais propriedade e correção do que eu poderia emprestar!
Szabo fez quase tudo dentro do Janga, sendo, inclusive, seu Comodoro, com excelente desempenho! Como poucos, não se retirou das lides do Clube que tanto amava após seu mandato e continuou, como Conselheiro extremamente atuante, até que as condições de saúde viessem a impor limites intransponíveis! Assim se comportando, ele reforçou em mim, a certeza de que muito bem representou a fibra, a coragem e a capacidade de trabalho dos húngaros que escolheram o sul desse imenso país para viver e deixar sua marca!
Partiu, para um outro patamar da existência, aquele que, dentro do Janga, trazia-me sempre, com traços muito vívidos e brilhantes, a lembrança carinhosa de László Ruttkay e seu veleiro, inspirador da minha intrínseca relação com este Clube! Querido Szabo: nessas novas paragens, certamente há um bom Sharpie a tua espera, ventos constantes e fortes como no Balaton e a companhia alegre e vibrante dos teus vários amigos e companheiros que disputarão, taco a taco, o direito de montar a bóia em primeiro lugar! Viszontlátásra! Istenveled!”
Vice-presidente do Conselho Deliberativo, Waldemar Bier
“Nosso amigo Szabo era um entusiasta pela prática do esporte da vela. Com o seu sotaque húngaro, calmo e apaixonado em incentivar os jovens, sempre foi um dos mais atuantes no Conselho do Clube. Tive o prazer de conviver muito com ele e a sua contribuição ao Jandadeiros é um legado que sempre iremos lembrar.”
Aimée Soares
“Cláudio Aydos definiu bem nosso amigo Luiz Szabo: “Luiz Szabo, um jangadeiro”. Era mesmo. Ingressou no clube junto com vários outros velejadores, como Luiz Chagas, Ruben Goidanich, Luiz Schramm, Rodolfo Ahrons, Eduardo Aaron, Eduardo Jacobsen, o “Pescocinho” e Airton Farias, todos oriundos do Iate Clube Guaíba. Quem saiu ganhando foi o nosso clube, que viu chegar essa turma que não só se integrou totalmente à vida do Jangadeiros, como passou a colaborar de maneira permanente e muito produtiva, a ponto de nós, jangadeiros mais antigos, termos a sensação de que eles sempre estiveram conosco. O Szabo, contando com o apoio e participação constante da Sônia, sua mulher, deu uma importante contribuição à organização e ao sucesso da vela juvenil, na época em que os nossos meninos navegavam em barcos da classe Pinguim. Gente como Marco Aurélio, José Adolfo e Luiz Eduardo Paradeda, George e Peter Nehm, Renato Reckziegel, os próprios filhos do Szabo, Pedro Luiz e Ladislau, entre outros, devem guardar lembranças muito vivas das inúmeras viagens para campeonatos nacionais e internacionais, que renderam expressivas vitórias para o Clube dos Jangadeiros. Luiz e Sônia Szabo foram os anjos da guarda dessa gurizada.Sempre em colaboração estreita com a direção do clube, Luiz Szabo foi nosso vice-comodoro Esportivo em três diretorias, de 1977 a 1981, e Comodoro no período 1988/1990. Ultimamente, devido às suas condições de saúde, vinha ao clube somente em ocasiões especiais, mas continuava atento e interessado. Quando eu ia visitá-lo, sempre me recebia com esta pergunta “Aimée, como vai o nosso clube?” E aí falávamos longamente, o Jangadeiros sempre nos deu muitos assuntos. Vamos sentir muita saudade do Szabo, homem calmo e sereno, como disse seu filho Peti, e amigo de verdade, com um grande coração sempre cheio de carinho pelo Jangadeiros e pelos amigos que aqui encontrou.”
Cláudio Aydos
“Esta semana perdi meu velho e grande amigo Luiz Szabo Adasz. Conheci o Luiz nos tempos do Ginásio Rosário. Solidificamos nossa amizade como velejadores no tempo em que ele disputava regatas pelo Iate Clube Guaíba com o seu “Tatagiba’ e eu pelo Jangadeiros com o meu “Rajada”. Arrisco-me a dizer que poucas pessoas tiveram ou têm tão grande amor pelo nosso Jangadeiros, onde ele foi vice-comodoro por várias vezes. Foi um ótimo Comodoro que, pelo seu grande trabalho e dedicação ao Clube, fez jus ao título de sócio benemérito. Szabo nos deixa para navegar em outros mares com ventos mais calmos, com certeza”
Pedro Pesce, vice-comodoro Administrativo
“O Szabo era um cara muito ponderado e extremamente comprometido com o Clube. Nunca faltava às reuniões de Conselho e mesmo com a saúde comprometida estava sempre ligado no Clube. Trabalhamos juntos durante 30 anos na Corsan. Era tranquilo, uma pessoa sensacional. O Jangadeiros era a vida dele. Temos muito a agradecer a esse nosso querido companheiro.”