Comandante Marcelo Bernd compartilha a experiência de mais uma participação na Regata Santos-Rio
Com o veleiro Bloody Bones, velejador representou o Clube dos Jangadeiros na classe Mini 6.50 na 70ª edição da competição.
Em sua terceira participação na tradicional Regata Santos-Rio, o Comandante Marcelo Bernd, do veleiro Bloody Bones, compartilhou os detalhes da sua experiência na 70ª edição da competição, onde representou o Clube dos Jangadeiros na classe Mini 6.50.
Nas outras duas oportunidades em que participou do evento, que é um dos principais do calendário da vela brasileira, o Comandante Marcelo disputou em veleiros de 40 e 44 pés, respectivamente. Para esta edição, preparou-se para o desafio de navegar entre os veleiros Mini Transat.
Infelizmente, devido à alguns imprevistos, o barco precisou abandonar a regata. Confira abaixo o relato do Comandante sobre a experiência na competição.
“Como experiência foi excelente, acrescentou muito para mim essa regata, principalmente em barcos pequenos. Eu já tinha feito essa regata duas vezes, uma em um 40 pés e outra em um 44 pés, e em todas outras edições eu sempre fiz a volta pela Ilhabela pelo lado de fora. E nesse ano, como de costume, tinha previsão de calmaria no Canal de São Sebastião e eu, erroneamente, achei que o Mini Transat iria conseguir vencer o vento forte, a corrente e as ondas pelo lado de fora. Esse foi o principal erro que nos levou à desistência da regata. Foi com grande tristeza e muito pesar no coração que abandonamos a regata, depois de muito esforço para a participação”.
A regata
“Nossa largada aconteceu na quarta tentativa, fizemos excelentes largadas e conseguimos largar juntos com os primeiros em todas as oportunidades. Largamos e saímos bem na frente dos outros. Aos poucos eles foram nos buscando no contravento e o Protótipo nos passou antes da primeira marca e os outros dois minis foram chegando devagarinho, mas nas manobras a gente conseguiu superar eles e montamos a primeira boia com uma folga. Fomos abrindo cada vez mais uma distância entre o segundo e terceiro colocados logo depois da primeira marca. Em seguida, mais da metade da flotilha optou por ir por Bertioga, ou seja, pela beira da praia onde tinha menos vento e a gente estava disposto a forçar bastante para tentar buscar o líder, então escolhemos de saída o bordo do mar, velejando por umas duas ou três horas por ali”.
“E felizmente esse bordo nos favoreceu demais, arribou uns 20 graus lá fora. Então a gente cambou com a proa muito alta, muito na pressão e, bom, a gente abriu muito assim da flotilha, inclusive de barcos grandes de 36 e 41 pés atrás da gente.
A gente velejou o dia inteiro na pressão alta com a proa alta e aí sim a gente deu um tiro até Bertioga. Novamente fomos muito felizes quando chegamos perto da praia, o vento negou 10, cambou e orçou mais 20. Bom, nessa condição nós botamos ali pelo menos quatro horas de vantagem em cima do segundo colocado, que era um protótipo. Esse protótipo estava sendo velejado pelo ex-campeão mundial de J24, o Santinha, lá do Rio de Janeiro. Então estávamos muito felizes e animados. Em seguida, depois de Bertioga, a gente se aproximou do Canal de São Sebastião e tem uma marca ali, que não é marca de regata, mas é um ponto clássico, que se chama Ilha o Montão de Trigo. Ali, normalmente o vento para. E parou. já eram 22, 23h. A gente teve até que botar balão ali para tentar arrancar daquele buraco. Em seguida a gente buscou o vento, não ficou nem 15 minutos parado a calmaria. Conseguimos chegar na rajada lá de fora de novo e foi aí que a gente foi induzido ao erro.
A gente tinha combinado de ir por dentro, mas com aquela parada de vento que deu praticamente na entrada do Canal de São Sebastião, a gente se assustou e quis garantir e manter o primeiro lugar. Nós pensamos: e se a gente vai por dentro e para na calmaria e os adversários vão por fora e andam… Então pra manter o primeiro lugar a gente resolveu arriscar, e na hora não estava tão arriscado, porque o vento ainda estava entre 10 e 15 nós passando na entrada do canal.
Só que foi aumentando, aumentando, o mar ficou enorme com ondas de mais de três metros e vento 20, 25 nós chegando de rajadas a 30. Velejamos a noite toda enfrentando esse mar e a gente cambou de manhã, já eram seis horas da manhã. A gente voltou pra Terra, cambou e a corrente foi nos jogando a noite inteira. Acorrente o vento e a onda. E nós voltamos exatamente no mesmo lugar onde nós estávamos à meia noite, uma hora da manhã que era passando Ilhabela, proa da ponta do boi no lado sul da Ilhabela.
Puxa, aí foi muito desanimador. Praticamente a gente tinha perdido toda a vantagem, nem sabíamos mais o quanto que a gente estava em relação à flotilha. Sei que foi muito ruim. Navegamos 12 horas e ficamos no mesmo lugar. E então, o que causou tudo isso é o fato de ser um barco muito pequeno, de 19 pés, que não é para velejar em contravento.
O barco é para velejar em folgado e no contra vento ele é um barco comum de 19 pés que anda a cinco nós, se tu pegas dois nós de corrente, um vento forte e a onda contra, então a gente não conseguiu avançar. Realmente faltou experiência num barco tão pequeno e, agora avaliando eu vejo claro que a corrente, em uma próxima vez, eu jamais faria aquela volta por fora. Fica bem fácil calcular ali, sempre tem corrente. Não era assim imprevisível, a gente podia ter previsto isso.
Só que depois de um dia inteiro de regata dando o máximo, a exaustão, o vento e o frio atrapalharam o nosso julgamento. Se eu tivesse ali apenas mais cansado, mas com condições de pensar melhor, eu nunca teria dado essa volta por fora enfrentado essas condições. Então foi aí que a gente errou. Infelizmente a gente ficou tão para trás que as condições continuavam duras, de vento forte contra todo o tempo e então não teve como prosseguir. Aconteceram alguns acidentes próximos ao nosso barco, pedidos de socorro em água.
Então para poupar o equipamento e a tripulação, lá estava eu e mais dois, não deu para prosseguir, pois com certeza o barco iria quebrar ou alguém poderia se machucar, então estava acima das nossas possibilidades e infelizmente com muita dor no coração, repito a gente voltou. Como o vento era tão forte tão favorável para volta e nós tínhamos provisões para mais e três dias, a gente decidiu já vim para Florianópolis e acabar a função. Então foi isso. Fizemos em 40 horas a volta, 270 milhas, foi uma navegação excelente, balão todo o tempo, foi muito bom”