Depoimento Helga Piccolo: 40 anos da Escola de Vela Barra Limpa
“Quando a escola Barra Limpa estava pronta e tinha que entrar em funcionamento, o nosso então comodoro Edgar Siegmann, chegou para mim e disse: “Olha Helga, tu és professora universitária, dá um jeito na escola”. E eu respondi: “Tu não queiras que eu dê aula de iatismo para os guris, eu vou dar aula de comportamento como iatista”.
Durante 40 anos fui professora da UFRGS, entrei em 57 e saí em 2010. E a escolinha foi fundada em 1974, ano do centenário da imigração alemã. O nosso comodoro também era de descendência alemã e tinha mais alemão do que qualquer coisa no Clube. Eu organizei o currículo e também dava aulas.
Fui a primeira diretora. Fiquei só quatro anos, por uma razão muito simples, a UFRGS mudou para Viamão. Aí eu disse “Olha Edgar, não é mais possível continuar”. Quando minha universidade era no centro, antes de eu ir para a aula passava na escola para ver se tudo estava em dia e se precisava tomar alguma providência. Quando o Werner doou a escola, o genro dele, que era engenheiro, foi pra Alemanha pesquisar escolas de vela. Ele então desenhou o modelo e nos apresentou e tal qual como ele previu a escola foi levantada.
Eu não conheço nenhuma escola de vela que tenha o mesmo desenho que a nossa. Uma coisa a gente deve sempre lembrar, na Europa, basicamente, o iatismo é praticado no mar e não no rio. Então, isso tinha que ser tomado em consideração. Foi levantado um morro e em cima desse morro se plantou a escola. E um dos grandes artistas plásticos do Rio Grande do Sul – Vasco Prado – gravou aquela imagem que está na porta de entrada. Sempre gosto de lembrar o seguinte: o Barra Limpa encontrou na Escola de Vela um caminho, uma orientação, ele se acertou no iatismo. Foi o iatismo que criou responsabilidade no guri.
A escola contribui muito na formação da personalidade dos nossos “pias”. Fui a primeira doutora em história no Rio Grande do Sul, cursado na USP. A minha biografia contribuiu para auxiliar no projeto da Barra Limpa – a minha grande paixão. Eu tive muitos alunos que se destacaram no iatismo. Por exemplo, a família do Careca (José Adolfo Paradeda) é toda de iatistas, o meu vizinho, que é filho do Edgar, também. Minha filha não pratica mais, e agora só o Hilton pratica na classe Oceano. Ele já foi campeão mundial da extinta classe Pinguim e campeão sul- americano na classe Snipe.
O Barra Limpa também foi meu aluno aqui em casa. A mãe dele pediu para eu dar duro nele e eu dei. E ele me respeitava muito. Na escola tínhamos código de disciplina, eu sempre fui muito severa, inclusive na universidade, que não me viessem entrar na aula para bagunçar!
Mas eu nunca me incomodei com os alunos e muito menos com os pais. Muitas vezes os pais não gostam de rigor. Meus alunos até hoje, sempre dizem: “Olha Helga, como tuas aulas foram boas e como tu nos ensinaste respeito e não apenas dentro da sala de aula”.