Neto de húngaros pelo lado materno e de uma família tradicional de médicos de Porto Alegre por parte de pai (seu avô é o Professor Oscar Pereira, que dá nome à avenida na Zona Sul, seu tio-avô é o Professor Manuel Pereira Filho, que dá nome ao pavilhão de doenças pulmonares da Santa Casa e seu pai, Manuel May Pereira, foi diretor de Faculdade de Medicina e Professor Emérito em duas Universidades), Manuel Ruttkay Pereira nasceu em Porto Alegre há 62 anos. Médico pediatra (formado pela UFRGS em 1977, com mestrado, doutorado e especialização no Canadá), professor nas Faculdades de Medicina da UFRGS e PUCRS, marido, pai e avô, o Comodoro divide o pouco tempo que resta entre suas outras paixões: automóveis, fotografia e o Clube dos Jangadeiros. O CDJ, aliás, não é uma paixão exclusiva de Manuel, a sua família estava presente no clube desde a fundação. “Meu avô, Lázsló Ruttkay, velejava na Hungria e, quando veio para Porto Alegre, foi convidado pelo fundador do Clube, Leopoldo Geyer, para se juntar ao Jangadeiros”. E esse amor pelo clube foi passando de geração para geração. “Minha mãe foi dependente do meu avô, logo depois meu pai se ligou ao Clube, e eu fui dependente de sócio, sócio aspirante e hoje sou sócio proprietário ilha. Minhas filhas, Luciana e Denise, também são sócias, e meus netos já representam a quinta geração da família no Jangadeiros.” Segundo o Comodoro, esse legado do Janga não é por acaso. “O Clube tem essa magia de fazer as pessoas se apaixonarem. Mesmo quem não tem ligação com a vela se encanta.
”A infância de Manuel foi quase toda dentro do Jangadeiros. Apesar de só começar a velejar aos 14 anos, o Comodoro sempre frequentou muito o clube com toda a sua família. “Quando criança curti muito as coisas da terra do Jangadeiros. Tenho lembranças dos banhos no rio, dos jogos de vôlei e futebol no que hoje é a quadra de tênis, da época sem ilha, de quando ela estava sendo construída e como desaparecia quando o rio subia ou aumentava quando o rio descia”. Dos irmãos, ele foi o que começou na vela mais tarde. Manuel velejou na classe Pinguim por alguns anos, participando inclusive de campeonatos brasileiros, sul-americanos e mundiais. “Mas não me pergunte a minha classificação”, ele fala entre risos. “Tive aquela fase que achei que seria um grande iatista”. Hoje, o Comodoro possui um barco de 25 pés que usa para passear, com a esposa Beatriz, também médica e companheira de todas as horas, filhas, genros e netos pelas águas do Guaíba.
Manuel sempre se considerou um sócio low profile, que ia para o clube para curtir com a família e os amigos. Porém, isso mudou quando foi convidado por Paulo Renato Paradeda e Carlos Franco Voegeli para candidatar-se a uma vaga no Conselho Deliberativo do Clube. “O convite foi tentador, eu achei que podia devolver ao Jangadeiros alguma coisa do que ele me deu”. Manuel optou por aceitar a proposta. A ideia deu tão certo que pouco tempo depois se tornou vice-presidente e em, seguida, presidente do Conselho, função que exerceu por 12 anos. A comodoria também nunca esteve nos seus planos, até que alguns amigos o induziram a se candidatar. “Confesso que relutei pelo tipo de vida que eu tenho. Como médico, não há hora certa para trabalhar e tudo é muito corrido, mas depois percebi que eu deveria dedicar-me a essa nova função e exercê-la ao lado de pessoas queridas, apaixonadas e competentes, como são meus vice-comodoros Antonio Joaquim, Gunther, Pedro e Xandi”.
Eleito em 2014 e já fazendo um balanço do período, Manuel lembra que vivemos uma época política e economicamente complicada, mas acredita que a gestão atual está realizando uma administração boa e com pés no chão. “Estamos administrando os centavos, otimizando e aperfeiçoando as estruturas do clube e, ao mesmo tempo, conseguindo avançar em coisas muito positivas como a regularização das áreas e prédios junto ao município, legalização da área norte da ilha junto ao farol e a aprovação do projeto Preparando o Futuro Olímpico. Esse último propiciará a vinda de recursos para colocar novos equipamentos de navegação o que, literalmente, catapultará o Jangadeiros ainda mais alto”.
Para ele, na sua função atual, o maior desafio é estimular que o clube continue cada vez mais amigável para o associado, e ao mesmo tempo prosseguir qualificando a vela de competição. “Isso é algo que deve ser um objetivo, mas nem sempre é fácil de obter. Metade do quadro social não navega, não tem barco e precisa ter suas reivindicações atendidas. Isso sem jamais descurar do motivo pelo qual o Jangadeiros se tornou o que é hoje: um clube de ponta no iatismo de alta performance e também um pioneiro no ensino da vela e no estímulo à arte de navegar. Nossa utopia é de que esses avanços e melhoramentos podem acontecer ao mesmo tempo, satisfazendo a gregos e troianos ”.
“O futuro só a Deus pertence, mas me enxergo auxiliando o Clube no que for possível e velejando com meus netinhos, dentro ou fora dos barquinhos que já prometí para cada um deles, de forma escrita inclusive, no momento em que nasceram! O fazendeiro e criador de cavalos presenteia o recém-nascido com um potrinho, eu presentei com um Optimist!”